quarta-feira, 27 de março de 2013

Os skinheads no Brasil

Os skinheads no Brasil

      A origem dos skinheads acontece na década de 1960 na Inglaterra, a música era o principal elemento que os uniam (ska, reggae, rude boys, entre outros), esta subcultura juvenil tinha como aspectos a estética e o comportamento, sendo formados tanto por brancos como por negros (imigrantes jamaicanos). Uma das marcas que a mídia divulga dos skinheads são suas cabeças raspadas (o termo skinheads e traduzido como “cabeça pelada”), porém havia nos grupos garotas, garotos com cabelos grandes, vestimentas que “escapam” do estilo divulgado pelos meios de comunicação. Uma das características destes grupos foi promover confrontos de gangues em estádios de futebol, repúdio aos paquistaneses e asiáticos, eram contra os nazistas, não aceitavam o racismo contra negros, já que muitos deles eram descendentes de negros, eram adeptos da direita radical e muitos deles filhos de operários ingleses.    
      A Europa durante a década de 1960 estava passando por grandes transformações na área cultural e política. O confronto ideológico entre o capitalismo liderado pelos norte-americanos e o comunismo pela União Soviética colocava o mundo em constantes discussões a respeito destes dois pólos ideológicos. Os EUA, ironicamente, foi o berço da chamada contracultura, movimento que colocava em cheque o modelo de família da classe média norte americana e do próprio sistema capitalista com sua lógica de mercado e de consumo. Na Europa estava acontecendo greves e movimentos estudantis, em 1968 houve na França uma grande manifestação em que os operários e os estudantes questionaram as estruturas políticas e sociais, enfim, o contexto em que originou os skinheads foi de grande turbulência, as mudanças ocorridas naquele momento refletiram de forma direta na criação de vários grupos urbanos, a própria dinâmica destes grupos e reflexo dos fatores históricos que estão inseridos. Estruturas rígidas como família, Estado, religião são questionadas e influenciaram diversas teorias e grupos, e juntamente com estes grupos surgiram também grupos em que tendiam a preservar estas estruturas.

A heterogeneidade tende a quebrar estruturas sociais rígidas e a produzir maior mobilidade, instabilidade e insegurança, e a filiação de indivíduos a uma variedade de grupos sociais opostos e tangenciais com um alto grau de renovação dos seus componentes. O nexo pecuniário tende a deslocar as relações pessoais, e as instituições tendem a atende às necessidades das massas em vez do indivíduo. O indivíduo, portanto, somente se torna eficaz através de grupos organizados. O complexo fenômeno do urbanismo poderá apresentar unidade e coerência se a análise sociológica se fizer à luz de tal corpo teórico. A evidência empírica referente à Ecologia, à Organização Social e à Psicologia Social do modo de vida urbano confirma a eficácia dessa abordagem”[1]


      No final da década de 1970, surge uma segunda “geração” de skinheads, reunindo aspectos da geração anterior com a cultura punk. Já na década de 1980 os skinheads fragmentam-se, originando vários grupos, ocasionando a infiltração da política dentro da cultura skin, os integrantes destes submovimentos passaram a promover o racismo contra negros, a xenofobia, a homofobia e a cultivar as ideologias nazistas.
      Os skinheads atuais têm como características principais as referências visuais, o culto ao futebol à cerveja e a violência, procuram se organizar em territórios e a cultivar brigas em gangues, com um viés ultranacionalista.
      Apesar de todas estas características, os skinheads têm fortes influências locais, sendo as cidades os grandes pontos de heterogeneidade destes grupos, tanto às transformações ocorridas na história, quanto às mudanças culturais em cada local dão a estes grupos uma peculiaridade. Os vários aspectos econômicos, sociais, culturais, históricos e geográficos definem cada grupo oriundo do local em que estão inseridos. Porém qual for o modelo de conduta dos skinheads, o nacionalismo que dá ânimo e permite a continuidade de tais ideais e ações. A disseminação destes ideais para fora da Europa levou consigo este caráter nacional radicalizado.


“Para os sociólogos franceses, a cidade deveria ser compreendida como espaço socialmente produzido, assumindo diferentes configurações de acordo com os vários modos de organização socioeconômica e de controle político. Ganha importância a interação entre as relações de produção, consumo, troca e poder que se manifestam no ambiente urbano.”[2]


      No Brasil, o skinheads teve sua origem nos bairros pobres da Zona Leste de São Paulo e nas cidades industriais do ABC paulista, ocorreu por volta do ano de 1982, no início eram adeptos do punk que rasparam as cabeças para diferenciarem dos chamados punks da cidade, aqueles que circulavam no centro da cidade de São Paulo, com o crescimento do grupo passaram a aceitar jovens da classe média. Nos primeiros tempos tinham como características negar qualquer ligação com sintomas políticos de extrema direita. Atualmente há uma grande rivalidade entre simpatizantes de um nacionalismo tolerante em termos raciais, grande parte dos adeptos destes grupos passaram a aceitar negros e filhos de nordestinos em seus quadros.
      Os skinheads brasileiros não podem ser considerados como um movimento social, pois em termos numéricos é insignificante para o cenário político institucional, o que lhes dão evidencia é a mídia, noticiando alguns casos de violência e que os colocam em evidência, proporcionando sua identificação através de certo tipo de nacionalismo justificando com este argumento seus atos de violência, colocando os seus “inimigos” como sendo inimigos da nação.
      Os skinheads brasileiros sendo os sujeitos que causam humilhação, colocam-se como sendo os representantes da nação. Os skinheads europeus conseguem disseminar idéias de superioridade branca, anti-imigração ou anti-socialista com uma maior facilidade, pois devido a questões históricas e culturais os Estados europeus apresentam características mais homogenias, como cor, tradição, costumes entre outros. No caso brasileiro os fatores históricos que proporcionam um mistura de raças, culturas e línguas dificultam a importação destas idéias, porém a linha simplista que separam racistas e não-racistas é por vezes subtendida por posicionamentos intermediários tendo por base um tipo particular de visão histórica, há em seus discursos um projeto nacionalista que inclui igualmente todas as raças que convivem no Brasil, porém preservando as diferenças étnicas.
      No Brasil temos dois tipos diferentes que mais se destacam de skinheads, um chamado de “carecas” tendo como características um nacionalismo tolerante em termos raciais oriundos do ABC Paulista, aceitam negros e os filhos de imigrantes nordestinos em seus grupos. Outro grupo defensor de uma supremacia branca, os White Power Skinheads, também devotos ao separatismo em nome de uma improvável pureza racial.
      Os skinheads White Power colocam como seus alvos os negros e nordestinos. A mídia tende a analisar este ódio somente por uma perspectiva de racismo e preconceito. Numa análise simplista o negro e visto como raça inferior dada à marginalidade e à malandragem inerentes, o nordestino como ladrão de empregos e subversor cultural e o judeu como controlador da mídia. Ao analisarmos mais profundamente percebemos que questões de ordem econômicas e sociais influenciam neste ódio, o desemprego, a violência, as perspectivas de vida dos jovens e a competição proporcionada pelo crescimento das cidades fazem com que há um repúdio aqueles que são considerados “inferiores” e “de fora”. A discussão a respeito da presença nordestina é praticamente exclusiva aos skinheads de São Paulo.

“A densidade reforça a diferenciação interna, pois, paradoxalmente, quanto mais próximos estamos fisicamente, tanto mais distantes são os contatos sociais, a partir do momento em que se torna necessário só se comprometer parcialmente em cada um dos relacionamentos. Há, portanto uma justaposição sem mistura de meios sociais diferentes, à que gera o relativismo e a secularização da sociedade urbana (indiferença a tudo que não esteja diretamente ligado aos objetivos próprios de cada indivíduo). Enfim, a coabitação sem possibilidades de expansão real resulta na selvageria individual (para evitar o controle social) e, consequentemente, na agressividade.”[3]


      Com um viés religioso os skinheads brasileiros excluem os homossexuais, sendo mais uma variante na composição do nacionalismo dos skinheads brasileiros. Este ódio aos homossexuais acontece tanto dos “carecas” quanto dos White Power Skinheads. A questão separatista está presente nos White Power Skinheads já os “carecas” aceitam a multiracialidade brasileira. Os White Power Skinheads buscam um Estado somente com pessoas brancas.
      Porém há divergências mesmo entre os Skinheads White power dos estados do sul em relação os de São Paulo, pois os sulistas reforçam a exclusão de São Paulo, alegando que os paulistas não são descendentes da raça “pura” oriunda da Europa, a miscigenação paulista não poderia ser aceito num Estado ariano.
      Mesmo com tantas divergências dos skinheads brasileiros, há, no entanto dois itens que os unem, tanto os “carecas” quanto os White Power Skinheads o comunismo e o sionismo são inimigos a ser eliminados em nome de um nacionalismo pleno e irrestrito. As análises feitas pelos integrantes dos skinheads não estão pautadas em analises de cunho teórico e com aprofundamento dos itens. Há um reducionismo destas análises referentes aos temas como comunismo, para eles este sistema é um fracasso, tirando o exemplo soviético como o principal motivo do repúdio ao comunismo, questões religiosas são a base para o repúdio aos adeptos do comunismo e do ateísmo.
      O sionismo e atacado por todos os skinheads brasileiros, muitos colocam o holocausto como sendo uma supervalorização da mídia (controlada pelos judeus), procuram justificar suas ações colocando os sionistas capazes de controlar a opinião pública em favor de seus planos de dominação mundial, usando o holocausto como moeda de troca nos momentos críticos.
      Os males a que se referem os skinheads nas práticas sionistas e comunistas estão pautados em cunho moral, segundo eles estes grupos provocaram a destruição de famílias, aborto, homossexualismo, sexo precoce, infidelidade conjugal e drogas. O nacionalismo iria banir estas ameaças.
      Há várias questões que pode ser levantada para justificar a entrada de jovens nestes grupos, a idéia de pertencimento de determinado grupo, a segurança em ter uma identidade, questões de ordem econômicas como desemprego, subemprego, competição no mercado de trabalho, a rebeldia dos jovens, como uma forma de afirmação. A educação precária, as mentes juvenis cansadas de tamanha insolubilidade, acaba buscando alternativas simplificadoras para os problemas complexos.
      As idéias da extrema direita são bem vindas neste contexto, pois a eliminação dos sujeitos que não são bem vindos se tornam uma ação mais simples do que entender e intervir de forma estrutural os problemas.
      Os skinheads estão inseridos em num momento histórico, este momento chamado de pós-modernidade busca desvendar vários mistérios que rondam o universo, as conquistas tecnológicas, científicas, a derrubada de teorias que antes eram dadas como inquestionáveis, colocam o momento atual em “crise” de identidade, a sociedade torna-se mais flexível, não há mais um ou dois tipos ideológicos que procuram solucionar os problemas sociais, questões relacionados à ética e moral volta a ser foco de análises. Idéias prontas e acabadas passam a dar lugar, a uma gama de questionamentos, a verdade que antes era buscada, passa a ser questionada, não temos mais uma verdade, mas sim uma variedade de “verdades”, na qual não cabe simplesmente buscarmos solução em apenas uma, mas ser flexível, dialogando com vários questionamentos. O dogmatismo científico cego e proporciona uma visão distorcida das novas tendências sociais.
      A ambigüidade e uma das marcas desta nova modernidade, ao mesmo tempo em que estão buscando uma melhoria nas condições de vida, por outro lado à humanidade nunca esteve tão perto do seu auto-extermínio, novos valores foram introduzidos, as mudanças nas áreas de comunicação tornam o mundo um lugar “pequeno”, as distâncias que eram algo a ser superado, torna-se relativamente resolvido, estruturas rígidas como a religião, está esfacelando, dando lugar a uma variedade de novas seitas.
      Diante deste novo paradigma que está passando a sociedade pós-moderna, a saída está em buscar uma maior transdisciplinaridade, o pensamento simplificado está dando lugar a um pensamento complexo, na qual une e distingue ao mesmo tempo. O verdadeiro ponto de partida está em compreender a ação dos indivíduos e não a análise das instituições sociais ou dos grupos sociais. Este momento histórico está proporcionando aos homens um ponto de vista mais emotivo em relação ao mundo, resgatando uma sensibilidade em relação ao mundo, diferentemente de outros momentos históricos. Os sentimentos de pertencimentos é o resultado de um processo de integração cujo fundamento do grupo é experimentar novos valores emotivos ou afetivos.
     Os skinheads, assim como vários outros grupos, surgem com uma espécie de compensação diante de uma nova sociedade, pois os laços e a coesão que mantinham a sociedade anterior ficaram fragilidades diante das novas perspectivas de relacionamentos proporcionados pelas rápidas mudanças no mundo tecno-científico e social.
      Diante destas análises, não podemos simplesmente rotular determinados grupos de acordo com análises simplistas, principalmente divulgados pela mídia, também não nos cabe repelir totalmente estes noticiários. Temos que buscar entender fatores diversos irão nos proporcionar uma análise mais realista dos acontecimentos. Os skinheads brasileiros devem ser analisados neste contexto, não podemos generalizar suas ações, ou simplesmente buscar uma referência de outros lugares para classificar ou denominar determinadas ações, como vimos as mudanças em relação ao comportamento deste grupo variou muito em relação ao tempo e ao local, mesmo agora as mudanças estão acontecendo de forma rápida.



Referências Bibliográficas:

*QUARESMA, Sivia Jurema. Durkheim e Weber: Inspiração para uma nova sociabilidade, o neotribalismo. Revista eletrônica dos pós-graduandos em sociologia política da UFSC, Santa Catarina, v. 2, n.1, p.81-89, janeiro-julho 2005.

*BRACHT, Alessandro. O nacionalismo dos skinheads brasileiros. Revista de História, João Pessoa, Ano 2005, n. 12, p. 95-111, jan/ jul 2005.

*FRESHSE, Fraya. In: As realidades que as “tribos urbanas” criam. Tribos urbanas: produção artísticas e identidades. São Paulo, annablume, 2004. 234 pág.

*AMORIM, Lidiane Ramirez de. O estilo punk na pós-modernidade: da crítica à compreensão. Trabalho apresentado no VII Encontro dos núcleos de Pesquisa em comunicação – NP Comunicação e Culturas Urbanas. Santos, p. 1-12, 2 de setembro de 2007.

*SOUZA, Telma Regina de Paula. Ideologias ou mitos totalitários? Fragmentos de discursos inigualitários. Revista Psicologia Política. São Paulo, 1998.

*WIRTH, Louis. O urbanismo como modo de vida; in: Velho, Otávio Guilherme (org) O fenômeno Urbano. Rio de Janeiro; Guanabara, 1987.

*ANNA, Maria Josefina Gabriel Sant. A concepção de cidade em diferentes matrizes teóricas das Ciências sociais. Rio de Janeiro.

*CASTELLS, Manuel. In: O mito da cultura Urbana. A questão Urbana.     
     



*htt://.Carlos Eduardo Pimentel*; Valdiney V. Gouveia**; Patrícia Nunes da Fonsecahttp://scielo.bvs-psi.org.br/scielo.php?pid=S1413-82712005000200003&script=sci_arttext&tlng=pt

*http://www.pec.uem.br/dcu/VII_SAU/Trabalhos/6-laudas/FRAN%C7A,%20Carlos%20Eduardo.pdf . análise historiográfica sobre os movimentos juvenis e o surgimento dos skinheads brasileiros.

*FRANÇA, Carlos Eduardo; POSSAS, Lídia Maria Viana. Universidade Estadual Paulista – UNESP – campus de Marília. Departamento de Ciências Políticas e Econômicas.


*http://www.fafich.ufmg.br/~psicopol/pdfv1r1/Telma.pdf ideologias ou mitos totalitários? Fragmentos de discursos inigualitários.
ncia, proporcionando sua identificaç mento social, pois em termos nante em termos raciais, grande parte dos adeptos destes grup
     



[1] WIRTH, Louis. O urbanismo como modo de vida; in: Velho, Otávio Guilherme (org) O fenômeno Urbano. Rio de Janeiro; Guanabara, 1987.
[2] ANNA, Maria Josefina Gabriel Sant. A concepção de cidade em diferentes matrizes teóricas das Ciências sociais. Rio de Janeiro.
[3] CASTELLS, Manuel. In: O mito da cultura Urbana. A questão Urbana.

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