domingo, 30 de março de 2014

Banalização do mal




O Holocausto durante a segunda guerra mundial provocou grandes transformações políticas e no
pensamento ocidental. Israel buscou de várias formas capturar e julgar aqueles que participaram direto e indiretamente deste terrível episódio da história humana. Um destes fugitivos foi Eichmann, ele foi capturado na Argentina da década de 60 e levado para julgamento em solo israelense. Este caso teve uma grande repercussão internacional, sendo transmitidos para vários países. A filosofa Hannah Arendt se interessou pelo caso e virou repórter neste julgamento. 
Ela buscava compreender como era a mente de um ser humano que tinha ajudado a matança de  milhões de judeus. A sua genialidade foi fundamental para descobrir que aquele homem era um simples burocrata que obedecia as ordens superiores, um ser comum que tinha família, ia a igreja, tinha cachorros, filhos, uma casa e uma vida como qualquer outra, diferente da visão de muitos que buscavam naquele ser um verdadeiro monstro. Não, ele era como todos nós. Arend faz uma análise do mal não como uma categoria ontológica, não é natural, nem metafísico. O que ela perceba é que o mal é algo histórico, politizado, é produzido por pessoas na qual encontra espaços institucionalizados para perpetrar e difundir algo perverso. Porém não como algo monstruoso na qual as pessoas tenham medo, mas na sua trivialidade. Isto se deve ao esvaziamento do pensamento, neste cenário perfeito a banalidade do mal se alojo e se alastra. As pessoas seguem a lógica perversa do mal, porém sem fundamentos e com atitudes que muitas vezes parecem normais para o cotidiano.

Um exemplo que pode acontecer no nosso cotidiano na qual o mal não está em uma, duas ou algumas pessoas, mas na situação em que ocorre o evento:
Numa pesquisa recente foi demonstrado que a maioria dos brasileiros acham que as mulheres são as maiores culpadas por serem estupradas, que elas até merecem devido ao seu estilo de roupa. Podemos perceber que a falta de fundamentos neste tipo de raciocínio provoca a perpetuação do mal. Pois ao invés de condenarmos com veemência os estupradores, estamos invertendo a lógica e culpando as vítimas. Este tipo de pensamento provoca uma inversão de valores, então aquele que comete o estupro foi incentivado a fazer o ato, pois ele não tinha outra escolha, a moça o provocou? 
Este tipo de argumento é o mesmo que apoia atos de violência como as dos justiceiros que estão fazendo justiça com as próprias mãos em vários pontos do país. Ou aqueles que pensam que se os políticos roubam eles também tem o mesmo direito. Ou aqueles que condenam as prostitutas e homossexuais com argumentos moralistas e muitas vezes com práticas neonazistas.
Será que estas pessoas que pensam desta maneira teriam este mesmo pensamento se alguém de sua família fosse estuprada? Ou se acharia normal se um filho fosse julgado pelos justiceiros caso cometesse um crime?
O se estivessem morrendo em hospitais sem serem atendidas por descaso de nossos governantes?
Ou se tiverem algum parente próximo na prostituição ou discriminado e julgado por ser homossexual, será que gostariam que fossem  espancados até a morte, são atitudes que grupos neonazistas praticam. 
A máxima da ética é: tudo aquilo que você quer para si, deve desejar para todos (sem exceção), tudo aquilo que você não quer para si, deve também não querer para ninguém.
A banalidade do mal está no nosso dia-a-dia, nas nossas opiniões, nas nossas atitudes, no que fazemos e no que deixamos de fazer, na ação e também na omissão, no cumprimento das leis e no seu descumprimento. Devemos a todo momento analisar se estamos realmente fazendo o que é ético. Não devemos ficar neutro, por cima do muro. Isto só demonstra o quanto somos covardes de insensíveis.