domingo, 17 de agosto de 2014

A invasão de privacidade




Há uns 20 anos atrás para sabermos sobre uma determinada pessoa, teriamos que efetuar uma investigação minuciosa, buscando através talvez do lixo deste indivíduo fontes como o que ele alimenta, qual seus hábitos de leitura entre outros, ou talvez por fofocas, porém eram informações imprecisas. Tinhamos de certo modo uma privacidade, podíamos viver uma vida dupla, sendo por exemplo um excelente profissional com uma atuação exemplar e ter uma vida boêmia agitada, não que isto seja errado, mas podíamos viver sem que os outros questionassem o que é certo ou errado, tinhamos nossa intimidade preservada. Podíamos viver um amor platônico sem que outros soubessem ou interferissem, podíamos ter amantes sem que os outros desconfiassem, podíamos ter namoros e relacionamentos curtos ou duradouros que talvez uns poucos ficassem sabendo, podíamos viajar sem dar satisfação, podíamos ficar doente sem que muitos fizessem um estardalhaço como se estivessemos morrendo, poderíamos dar nossos vacilos e pagar micos sem que milhões ficassem sabendo, podíamos ter novos empregos sem que milhares estivessem apenas incentivando ou invejando, podíamos ter nossas loucuras de adolescentes sem correr o risco de aparecer para todos no dia seguinte, podíamos ter uma vida anônima, discreta e privada.
Hoje com a febre na qual se tornou os meios de comunicação e as redes sociais somos bombardeados com informações inuteis da vida privada de milhões de pessoas, muitos colocam praticamente tudo nas redes sociais, não precisamos mais do que uns cliques para saber quase tudo destas pessoas: o que gostam de fazer, o seu emprego, o estado civil, o que se alimentam, o que leem, onde viajam, quantos anos, quantos filhos, namorada/o, se tem cachorro enfim um verdadeiro mar de informações.
Os realty shows na qual milhões criticam e que milhões estão vivendo como se estivessem trancafiados numa casa, na verdade estão trancafiados numa rede que todos revelam praticamente tudo sobre suas vidas. As empresas, o seguro, os planos de saúde, a polícia, o pai da namorada, os traficantes, os ladrões, os banqueiros, a igreja, a família, a esposa enfim todos passam a saber tudo sobre você.
Se você não conseguiu uma determinada promoção que estava esperando a  muito tempo talvez seja aquela postagem na qual você colocou em que estava bêbado numa madrugada de domingo, ou talvez sua casa foi roubada por que você quis divulgar para todos que estava viajando no fim de semana com toda a família, ou que o seu seguro subiu exorbitantemente pois afinal você pratica esportes radicais, ou quem sabe sua namorada terminou com você por que o pai dela viu que curte Rock. O filme "O Show de Truman" de 1998 dirigido por Peter Weir e escrito por Andrew Niccol conta a história de Truman (Jim Carrey) que tem toda sua vida acompanhada por milhares de câmeras desde seu nascimento, em todos os lugares, tudo que ele fazia era visto por milhões de pessoas, sua vida tinha virado um teatro.  Hoje percebo que vivenciamos uma vida na qual temos milhões de Trumans, porém diferente do personagem que não sabia que estava sendo visto por milhões, podemos e devemos saber que a nossa liberdade está sendo cerceada por todos estes meios de comunicações que julgamos muitas vezes sem muito valor. É claro e já escrevi em outro momento o quanto é importante estes novos meios de comunicação, porém devemos utilizar com responsabilidade e muita inteligência.
A divulgação dos documentos secretos da agência norte americana de inteligência, na qual o governo norte americano está constantemente acompanhando tudo aquilo que fazemos na internet é apenas uma amostra de como estamos sendo vigiados,  nossa privacidade está completamente quebrada sem qualquer cerimônia.
Não estou fazendo nenhuma apologia para que as pessoas passam a não utilizar estes meios de comunicação principalmente as redes sociais. Apenas sejamos bastante criteriosos ao expor suas vidas para milhões ou até bilhões de pessoas.